Quem conhece o Joaquim Raposo Borges? - Parte II

Quarta, 25 Março 2009

Raposo Borges

Esta Parte II incide sobre a carreira de Raposo Borges enquanto treinador e não é tão descritiva como a Parte I porque foi nessa função que eu o conheci e, como tal, a minha liberdade de opinião alarga-se.

5 metros e o Menino Jesus -Enquanto atleta, Raposo Borges sempre teve como objectivo de carreira atingir os 5 metros (e viria a passá-los em mais 10 cm em 1979) e transportou esse objectivo para a sua carreira de treinador. Ajudar os atletas a passar uma barreira que ainda, 30 anos depois, continua a ser “mítica” em Portugal. E até hoje, penso que só um ou dois atletas portugueses tiveram a coragem de pensar na única e verdadeira barreira psicológica: a dos 6m.

É verdade que em qualquer desporto mas especialmente no Salto com Vara, existem etapas que não devem ser queimadas e só um louco pode pensar em 6 metros se nunca passou 5m. Mas loucos é o que não falta no Salto com Vara, como podem idealizar, e é por isso que encontramos muitos atletas a olhar bem para cima quando ainda estão cá em baixo. Foi o que aconteceu com Raposo Borges enquanto atleta e é isso que incute nos seus atletas. Quer motivar tanto os seus atletas que por vezes pode parecer arrogante para quem não está dentro do grupo.

Por ter saltado 5,10m quando ainda “o Menino Jesus ainda era vivo”, o Prof. Raposo Borges, por vezes, desvaloriza os resultados bons em Portugal de 4,40m – 5m. Pode parecer arrogância mas é excelente para tirar manias aos seus atletas. Julgarem-se os maiores quando saltam banalidades comparadas até com as melhores saltadoras femininas do mundo é algo vazio e não faz qualquer sentido. Posso assegurar que, pela minha percepção, os atletas treinados exclusivamente pelo prof. Raposo não andam de peito inchado. E friso “exclusivamente” porque podem observar atletas com manias e que são ajudados pelo Prof. Raposo na Vara mas o problema é dos seus treinadores de raiz. Ou por lhes disserem que vão ser Olímpicos, ou por lhes disserem que vão a Campeonatos do Mundo, ou por lhes disserem que serão os maiores da rua deles! Sei que há muitas maneiras pouco realistas ou reles de motivar os atletas…


Raposo Borges

Aproveitar um sábio que tem consciência do que fez no seu tempo e que mostra fotos e diz: “Vêem como eu saltava? Vêem este pormenor errado? Mas mesmo assim consegui saltar 5,10m”. Isso sim (!), isso é motivar os atletas, mostrando-lhes que é possível saltarem muito mais alto. Fazer-lhes perguntas retóricas: “Se eu consegui e saltava desta e daquela forma com esta e aquela vara, porque não haverão de conseguir também agora?” ou sendo realista dizendo-lhes para não ficarem felizes “com essas marcas que saltam porque só são boas em Portugal”.

O factor psicológico é muito bem trabalhado pelo Prof. Raposo Borges e talvez não seja por acaso que é o treinador que meteu mais atletas acima de 5m em Portugal e com mais campeões nacionais. Além disso, teve atletas que foram autênticas revelações em escalões jovens mas que, por um ou outro motivo, decidiram deixar de treinar com o Prof. Raposo e, por ironia do destino ou não, nunca mais fizeram nada de jeito, acabando por desistirem do atletismo. São alguns nomes que poderiam ser bastante conhecidos mas que actualmente não significam nada para os jovens.

Felicidade – Os factos falam por si e o Prof. Raposo Borges é o grande treinador de Salto com Vara em Portugal. No entanto, a única coisa que lhe falta é ser estrangeiro e fazer um campeão olímpico para ser reconhecido pelos seus colegas de profissão que andam sobre “andas” para se auto-promoverem mas que ainda estão a descortinar maneiras de se nivelarem no mesmo patamar de conhecimento que o Prof. Raposo. Ele é um treinador que não se suporta nas modernas tecnologias para fazer o seu trabalho, mas fá-lo pragmática e solitariamente e tem resultados.

Mas não! O estrangeiro é que é! Vão ao estrangeiro porque lá é que está a felicidade. Porque raio haveria da felicidade estar aqui mesmo à nossa frente? Para nós portugueses, é preciso que as pessoas que estão à nossa volta desapareçam para percebermos o quanto elas eram importantes.

E é o que vai acontecer! Porque dá-me a sensação que o Prof. Raposo é desacreditado por ter no seu passaporte a nacionalidade portuguesa. Simples pormenores na posição do joelho, do pé, da cabeça, etc, que sempre ensinou aos seus atletas desde a década de 80 do século passado só passam a ser dogmas se vier um orador estrangeiro dizer que é assim que se faz. O próprio Prof. Raposo tem consciência disso e só fica feliz por saber que, durante este tempo todo, sempre esteve certo e os outros errados.

Resistir - Uma das maiores desilusões da carreira do Prof. Raposo Borges foi perder o atleta que ajudou a saltar mais alto e que podia ter ajudado a saltar ainda mais alto. Em 2001, João André passou 5,51m qualificando-se para os Campeonatos do Mundo Indoor em Lisboa mas, injustamente, não foi seleccionado. João André deve ter percebido que algo não estava bem entre o seu treinador e algumas personagens e, deve ter sido a ambição de procurar estar presente noutras competições internacionais que o fez abandonar o seu treinador.

Ataques destas poderiam ter feito o Prof. Raposo sair do atletismo pela porta pequena, já que durante um ano e meio, só treinou praticamente dois atletas: o Sr. José Elias e a Mónica Silva. Mas permaneceu tal e qual uma árvore durante o Outono e Inverno. Passou dias e dias, triste, “despido” e ferido. Via os outros grupos cheios de atletas e cheios de alegria. No seu grupo, tinha um veterano e uma júnior mas, como uma árvore, ambicionava a chegada da Primavera para voltar a sorrir.

Soube resistir… Ganhou forças na derrota porque todos precisamos de ser derrotados antes de vencermos! Só assim estaremos sedentos de vitória e cheios de vontade de conquistar naquilo em que somos bons. E quem tem oportunidade de conhecer o Prof. Raposo nota que todo ele transpira Salto com Vara e, como qualquer pessoa, quer viver com aquilo que lhe dá mais prazer.

Soube resistir… E a “Primavera” chegou em 2003/04. Atletas como Edi Maia foram aparecendo e o futuro perspectivava-se com maior brilho. O Prof. Raposo Borges voltava a ter campeões nacionais nos escalões jovens. Em 2005, fez uma dobradinha com Campeão e Vice-Campeão nacional em Juvenis e Júniores. Nesse mesmo ano, Hugo Serra voltou a ser treinador pelo Prof. Raposo Borges, e saiu dos habituais nulos ou 4,40m- 4,60m para voltar a passar 5 metros e assustar João André no Campeonato de Portugal de 2005. Tive a oportunidade de assistir aos treinos psicológicas e toda a estratégia desenvolvida e foi por um triz que o Hugo Serra não roubou o 7º título ao João André.

Os dias de “Primavera” passaram a “Verão” quando João André reconheceu o seu erro, pediu desculpa e voltou a ser treinador pelo Prof. Raposo Borges. O grupo tornou-se maior e é fantástico poder treinar com aqueles que sabem. E quem mais sabe é o treinador, claro…

Paixão - Geralmente, o primeiro contacto com o Prof. Raposo enquanto treinador deixa uma pessoa apreensiva já que é uma pessoa que mostra, sem qualquer problema, todo o entusiasmo e paixão pela modalidade que ensina. E frequentemente, quem vive desse jeito, ou é amado ou é odiado.

Talvez seja por esse facto que, durante alguns anos o Prof. Raposo Borges, mesmo tendo campeões nacionais, não foi convocado para estágios nacionais, tal como os seus atletas… Só depois de tornar Edi Maia campeão de Portugal, é que voltou a marcar presença regular nesses eventos, o que é algo absurdo! Um treinador ao serviço da F.P.A. responsável pela Escola de Salto com Vara da F.P.A. que tem, desde 2004, uma média de 4 atletas líderes nacionais por ano, ser deixado de fora dessas concentrações com os “melhores” é algo perfeitamente inacreditável.

Situações destas poderiam ter feito o Prof. Raposo deixar de treinar mas aquela paixão que não sabe explicar mas que levou um homem aos Jogos Olímpicos e fez de atletas que ninguém dava nada por eles (o meu amigo Ricardo Ventura por exemplo), em verdadeiros saltadores… Essa paixão não desvanece e, concluindo com uma frase que o próprio gosta de cantarolar: “Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida…”

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