Kluft foi mais uma das vítimadas pela pista de Växjő.
Kluft habituou-se desde cedo a ser medalhada, um hábito que perdeu em 2008, quando as lesões a obrigaram à mudança para os saltos...mas sem o mesmo sucesso.
Ontem, depois de há um ano ter considerado a retirada como possível, mais uma das referências do atletismo sueco da atualidade colocou fim à carreira, depois de Susanna Kallur (em 2008), Stefan Holm (em 2010), e Christian Olsson (em 2012). O momento ocorreu depois da atleta sueca ter participado no campeonato da Suécia, na prova de 400 metros barreiras, uma distância em que se estreou na carreira e em que participou também pela última vez (por curiosidade completou a distância em 61,14 segundos). No final a atleta não podia ser mais esclarecedora : ”O meu corpo está cansado e fico infeliz ao dizer que este é o fim. É realmente difícil para mim. Neste momento sinto-me forte, mas é provável que acabe a chorar atrás das bancadas a seguir.”.
Com 29 anos a atleta sueca já antes tinha dado indícios da possibilidade do abandono, quando em maio de 2011 confessava o seu cansaço no desporto e com vontade de ir para outras paragens após os Jogos Olímpicos deste ano. ”Estou a começar a ficar saturada com o desporto e quero fazer outras coisas diferentes. Eu penso que ainda posso motivar outras pessoas, mas talvez noutros campos que não o desporto. Já não treino com felicidade”. Esta saturação quase que podia ter sido ultrapassada se nos Mundiais desse ano a sueca conseguisse chegar a uma das medalhas no salto em comprimento, mas acabaria por concluir no 5º lugar, ela que lutou contra muitas lesões que contraiu enquanto especialista de provas combinadas. A última lesão da carreira, que a impediu de estar em Londres nos Jogos Olímpicos, acabaria por ser fatal para o desfecho relativamente prematuro da sua ligação ao atletismo...
A SEGUIR À EUFORIA DE 5 ANOS DE OURO...5 ANOS DE AMARGURA
Remontando aos tempos de glória, Kluft foi uma junior perfeira, com vitórias no Europeu e Mundial da categoria, disputados em 2001 e 2002. Aliás, em 2002, no Europeu de séniores, acabaria com uma vitória, a primeira de outras vitórias que foi conquistando ao nível sénior entre 2002 e 2007. Estes cinco anos dourados permitiram-lhe chegar a 11 medalhas de Ouro em grandes eventos internacionais, conquistadas em Jogos Olímpicos (1), Mundiais de ar livre (3), Europeus de ar livre (2), Mundiais de pista coberta (2) e Europeus de pista coberta (1), a que se soma ainda uma medalha de bronze no Europeu de pista coberta em 2002. Deste período saiu aquele que ainda é o recorde europeu do heptatlo, obtido no Mundial de 2007, em Osaka, com 7032 pontos. Sobre este recorde e face à proeminência da britânica Jessica Ennis, Kluft já desejou que esse recorde venha a ser batido por aquela com quem um dia tomou um reconfortante pequeno-almoço em Barcelona, durante o Europeu de ar livre.
Depois disto só as lesões a conseguiram fazer parar, além da motivação. Antes dos Jogos Olímpicos de Pequim a sueca evidenciava a necessidade de estar presente na China apenas em disciplina individual, escolhendo o salto em comprimento e o triplo salto. Depois do 10º lugar que já havia conquistado em 2004, em 2008 a sueca chegou ao 9º lugar no salto em comprimento. Já quanto ao triplo salto, não passou da qualificação...
A atleta sempre se assumiu saltadora desde Pequim e mostrava-se irritada quando se equacionava de forma especulativa acerca do seu regresso às provas combinadas. A verdade é que as medalhas no salto em comprimento só apareceram enquanto heptatlonista quando foi terceira no Mundial de pista coberta (em 2004) e quando foi por duas vezes campeã europeia de sub-23 (em 2003 e 2005).
A PISTA DE VAXJO DITOU PRINCÍPIO DO FIM DA CARREIRA DE KLUFT
Em 2008 uma estranha coincidência levantou dúvidas sobre a pista de atletismo da cidade de Växjő (Suécia). Quatro atletas jovens, que tentavam alcançar o topo mundial, sofriam do mesmo tipo de lesão : fratura de stress. Disso demos conta no Atleta-Digital a 5 de novembro de 2008. Desde essa altura nunca mais Kluft foi a atleta de topo que demonstrou ser durante os primeiros anos de carreira ao nível sénior e as outras três atletas lesionadas, Susanna Kallur, Jenny Kallur e Emma Agrebjer acabariam em 2009 por praticamente dar as suas carreiras como terminadas, a primeira das quais chegou a ser recordista mundial dos 60 metros barreiras e apesar de várias tentativas de regresso nunca mais competiu.
Sobre o adeus de Carolina Kluft e a relutância na continuidade próxima ao desporto, significará a perda de uma das referências mundiais das difíceis disciplinas de provas combinadas e a certeza de um adeus prematura que contrasta com o caso da portuguesa Naide Gomes, que apesar das lesões das provas combinadas, conseguiu tornar o salto em comprimento num sucesso pessoal. Nota final para o facto de em 2003 e 2006 a atleta ter sido considerada a melhor atleta europeia do ano, um louvor apenas conseguido pelos melhores atletas da história europeia...
Histórico de Carolina Kluft nos grandes eventos:
HEPTATLO
Jogos Olímpicos : 2004 (1º)
Mundial Ar Livre : 2003 (1º), 2005 (1º), 2007 (1º)
Europeu Ar Livre : 2002 (1º), 2006 (1º)
Mundial de Juniores : 2002 (1º)
Europeu de Juniores : 2001 (1º)
PENTATLO
Mundial Pista Coberta : 2003 (1º), 2005 (1º)
Europeu Pista Coberta : 2002 (3º), 2007 (1º)
COMPRIMENTO
Jogos Olímpicos : 2004 (10º), 2008 (9º)
Mundial Ar Livre : 2011 (5º)
Europeu Ar Livre : 2006 (4º Qual), 2010 (11º)
Mundial Pista Coberta : 2004 (3º)
Europeu Sub-23 : 2003 (1º), 2005 (1º)
TRIPLO
Jogos Olímpicos : 2008 (12º Qual)
4x100
Mundial Ar Livre : 2003 (DNF), 2005 (3º Elim)
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